domingo, fevereiro 12, 2006

Hipócrates

Juro por Apolo, o médico, por Escolápio, por Higeia e por Panaceia, tomando por testemunhas todos os Deuses e todas as Deusas, que cumprirei com todas as minhas posses e conforme o meu saber o seguinte juramento:


Considerar e amar como a meus pais aquele que me ensinou esta arte; viver com ele e, se necessário for, repartir com ele os meus bens; olhar pelos seus filhos como se fossem meus irmãos e ensinar-lhes esta arte, se assim o pretenderem, sem receber qualquer pagamento ou promessa escrita; ensinar aos meus filhos, aos filhos do mestre que me ensinou e a todos os discípulos que se inscrevam e que concordem com as regras da profissão, mas só a estes todos os preceitos e conhecimentos. Prescrever aos doentes, segundo as minhas possibilidades e o meu saber, o regime conveniente para o seu bem e nunca prejudicar ninguém. Não receitar drogas perigosas para agradar a quem quer que seja, nem lhe dar conselhos que possam causar a sua morte. Não dar às mulheres meios de abortarem. Conservar a pureza da minha vida e da minha profissão. Não fazer operações para tirar pedras, mesmo nos enfermos em que doença seja manifesta, e deixar esta operação aos especialistas nessa arte. Em todas as casas a que eu for, entrar somente para benefício dos meus doentes, evitando qualquer prejuízo intencional ou qualquer sedução, bem como, em especial, os prazeres do amor com mulheres ou com homens, quer sejam livres ou escravos. Manter secreto e nunca revelar aos outros tudo o que possa vir a saber no exercício da minha profissão, fora da minha profissão ou na convivência diária com as pessoas e que não deva ser divulgado. Se eu mantiver e observar este juramento com fidelidade, que possa ter alegria em viver e praticar a minha arte, respeitado por todos os homens e em todos os tempos, mas se eu me desviar dele, ou o violar, que me suceda o contrário.

Hipócrates (460 a.C.)

1 comentário:

Elmo disse...

Hipócrates, considerado o Pai da Medicina, nasceu na ilha de Cos, 460 anos a.C., e pertence ao ramo de Cos da família Esculápio (ou Asclepíades) por descendência masculina. O termo esculápio é igualmente empregado para designar os médicos em geral, na medida em que praticam a arte de Esculápio (ou Asclepios), o Deus da medicina na época clássica. Na sua origem, o termo restringe-se aos filhos de Esculápio, Podalira e Machaon, personagem famosos, ambos médicos, e seus descendentes. Esculápio, fundador da família, ainda não era um Deus no tempo de Homero e sim o príncipe de Tricca, na Tessália, conhecido por seu grande saber médico, que, segundo a lenda, adquiriu do centauro Chiron. Segundo esta tradição, a família de Hipócrates era descendente de Podalira, único dos dois irmãos que sobreviveu à guerra de Tróia (1194-1184 a.C.). Conta-se que, ao voltar de Tróia, Podalira perdeu-se mas foi salvo por um pastor de cabras que conduziu-o a Damaithos, rei de Caria, cuja filha Syrna, que havia caído do telhado, foi tratada pelo médico. Como Damaithos estava desesperado, Podalira apelou para o que considerava o remédio ideal para queda do telhado, fazendo sangrias nos dois braços da filha do rei. O rei, cheio de admiração, mostrou o seu reconhecimento dando ao médico a mão de sua filha em casamento. Podalira fundou duas cidades, uma com o nome de sua mulher, Syrna, e outra com o nome do pastor que salvou-o.

Os filhos de Podalira nasceram em Syrna, que tornou-se assim o berço da família dos Esculápios da Ásia. A família cindiu-se em dois ramos. Um deles fixou-se na pequena ilha de Cos. Este é o ramo da família de Hipócrates. O outro ramo não deixou o continente asiático e instalou-se em Cnida, uma península bem na frente da ilha de Cos. Como a ciência médica transmitia-se de pai para filho, os dois ramos desenvolveram-se igualmente, transformando-se em centros médicos de grande reputação; porém, graças à personalidade e competência de Hipócrates, Cos terminou por eclipsar Cnida, e tornou-se o maior centro médico do mundo na época.

Segundo algumas biografias, o grande Hipócrates é o décimo-nono descedente de Esculápio e o vigésimo a partir de Zeus. O avô de Hipócrates, também médico, chamava-se Hipócrates, mas nunca alcançou a fama daquele que tornou-se conhecido como o pai da medicina.

"Hippocrates".
Jacques Jouanna Fayard.
Paris, 1992.